Quando Encruzilhadas Antigas Encontram a Missão Moderna: Os Povos de Fronteira do Afeganistão
- Rodrigo Tinoco

- 12 de jul.
- 9 min de leitura
Tradução do e-mail de julho de 2025
Email: Bring the Gospel to Afghanistan’s Forgotten
Traduzido por Rodrigo Tinoco
Queridos amigos e companheiros de trabalho na seara,
Se você já se perguntou onde a expressão “encruzilhada da história” ganha vida, não procure além do Afeganistão. Há mais de 2.500 anos, esta nação sem saída para o mar testemunha impérios surgirem e caírem dentro de suas fronteiras, de Alexandre, o Grande, à União Soviética, até os conflitos mais recentes que todos acompanhamos pelas notícias.
Mas aqui está algo que pode surpreender: o Afeganistão abriga uma das mais significativas concentrações de Povos de Fronteira (FPG) em todo o planeta. E isso muda completamente a maneira como devemos pensar e orar por esta região.
Hoje quero compartilhar três pontos cruciais que devem chamar a atenção de quem leva a sério a conclusão da Grande Comissão: a presença esmagadora de Povos de Fronteirano Afeganistão; o que, exatamente, torna um povo (grupo étnico) “de fronteira” (uma breve recapitulação do conceito Povos de Fronteira); e notícias empolgantes sobre o Programa de Adoção de Povos do Projeto Josué, que será lançado neste mês de julho de 2025 pelo Projeto Josué.

A - Afeganistão: Um pano bem entrelaçado de Povos não Alcançados
Eis uma estatística que me deixou boquiaberto: o Afeganistão possui 70 povos, dos quais apenas 2 são considerados “alcançados”. Mais impressionante ainda que 7 são Povos Não Alcançados (ou Povos Não Alcançados não de fronteira [1b]), e 61 enquadram-se como Povos de Fronteira (ou Povos Não Alcançados de Fronteira [1a]), os campos missionários mais desafiadores do planeta.
Para colocar isso em perspectiva: quando falamos do Afeganistão, não estamos tratando de uma cultura monolítica que precisa do evangelho. Observamos um mosaico complexo de povos distintos, cada um com suas próprias línguas, costumes e estruturas sociais. Se você encontrar aleatoriamente alguém do Afeganistão, há cerca de 97% de chance de essa pessoa pertencer a um povo não alcançado, e aproximadamente 90% a um povo de fronteira.
Esses não são apenas números, representam 43 milhões de portadores da imagem de Deus que vivem sem acesso ao evangelho.
O Desafio Rural
Quase três quartos da população do Afeganistão vivem em áreas rurais, espalhados por aldeias e assentamentos remotos. Estamos falando de milhões de agricultores, cuidadores de animais e famílias que vivem isolados de qualquer testemunho do evangelho.
A natureza rural apresenta desafios únicos. Diferentemente da evangelização urbana, na qual se pode alcançar milhares de pessoas por meio de uma única igreja plantada, o Afeganistão rural exige uma abordagem aldeia por aldeia. Além disso, as populações rurais tendem a ser mais resistentes a mudanças espirituais do que suas contrapartes urbanas, e muitas aldeias permanecem difíceis de alcançar tanto fisicamente quanto através da mídia.
Conhecendo os Principais Povos (Grupos Étnicos) do Afeganistão
Os Pashtuns estão entre os maiores grupos étnicos do Afeganistão e figuram entre as 50 maiores tribos não-alcançadas do mundo. Eles vivem segundo um código de honra peculiar chamado Pashtunwali, que, por vezes, parece ir mais fundo que a própria fé islâmica deles. Esse código exige hospitalidade extraordinária. Um pashtun arriscará a própria vida para proteger um hóspede, mas também impõe vingança que pode atravessar gerações. Um de seus provérbios resume bem isso: “O pashtun que se vingou depois de 100 anos disse: ‘Fui rápido’”.
A ênfase deles na hospitalidade pode abrir portas para a construção de relacionamentos, enquanto sua tradição de vingança revela a necessidade urgente da mensagem de perdão e reconciliação de Cristo.
Os Tajiques constituem o maior grupo populacional do Afeganistão, descendentes de povos persas. Curiosamente, o país abriga a maior população tajique fora do Tadjiquistão. Porém, esses tajiques afegãos diferem bastante de seus vizinhos do norte, que viveram 70 anos sob influência soviética, criando desafios evangelísticos específicos.
Os Hazaras, reconhecíveis por traços do Leste Asiático (provável herança mongol), são o único grande grupo afegão que abraça o islã xiita, e não o sunita. Essa diferença religiosa fez deles alvo de severa perseguição, em 1893, mais da metade de sua população foi exterminada e, tão recentemente quanto 2022, o Talibã executou 150 civis hazaras.
Mesmo assim, os hazaras demonstram a maior abertura ao evangelho e representam o maior contingente de afegãos que têm se convertido a Cristo. Às vezes, a graça de Deus brilha com mais intensidade nos lugares mais sombrios.
Os Uzbeques vivem principalmente nas regiões montanhosas do norte e preservam ricas tradições culturais por meio da poesia, da música e do artesanato. Apesar de sua criatividade e laboriosidade, enfrentam solos rochosos que tornam a agricultura extremamente difícil, um desafio prático que pode abrir oportunidades para abordagens ministeriais holísticas.
Cada um desses grupos representa um campo missionário distinto, que exige estratégias culturalmente adequadas, trabalho linguístico e compromisso de longo prazo.
B- Povos de Fronteira: Uma Recapitulação Rápida
Permita-me oferecer um breve resumo do que torna um povo (grupo étnico) “de fronteira”.
Os povos existem em diferentes estágios de acesso ao evangelho. A “Escala de Progresso” do Projeto Josué ajuda-nos a ir além das simples categorias de alcançados ou não-alcançados para compreender a realidade nuançada do acesso ao evangelho entre diversos povos.
Os “Povos de Fronteira” situam-se no Nível 1a dessa escala, representando os campos missionários mais desafiadores:
1• 0,1% ou menos de adeptos cristãos (menos de 1 em cada 1 000 pessoas)
2• Nenhum movimento confirmado de plantação de igrejas indígenas
3• Praticamente nenhum acesso ao evangelho de forma culturalmente relevante
Eis o entendimento principal: todos os “Povos de Fronteira” são não-alcançados, mas nem todos os povos não alcançados são “de fronteira”. Os “Povos de Fronteira” representam a maior necessidade do evangelho porque lhes falta até mesmo a base mais elementar para a propagação interna das boas-novas.
Atualmente, há aproximadamente 4.840 Povos de Fronteira em todo o mundo, somando cerca de 2 bilhões de pessoas. A concentração desses povos no Afeganistão faz do país um dos locais mais estratégicos para enfoque missionário “de fronteira”.
Pense assim: se os povos não alcançados são campos que precisam de colheita, os Povos de Fronteira são campos que ainda nem foram semeados. Eles necessitam daquele avanço inicial do evangelho, o plantio das primeiras igrejas que poderão multiplicar-se organicamente dentro de sua cultura.
Compreender a designação “de fronteira” ajuda-nos a priorizar nossas orações, recursos e envio missionário de forma estratégica, em vez de distribuir esforços igualmente por todos os campos.
C- Notícia Empolgante: O Programa de Adoção de Povos
É aqui que as coisas ficam realmente empolgantes. Ainda este mês, julho de 2025, o Projeto Josué lançará o nosso Programa de Adoção de Povos. Embora ainda estejamos finalizando as datas de lançamento (fique atento às nossas redes sociais e e-mails!), posso compartilhar detalhes fundamentais que devem levá-lo a pensar e orar sobre a participação.
O que é Adoção de Povos?
Pense na adoção de povos como avançar além do apoio missionário geral para um foco específico e estratégico. Em vez de orar amplamente pelas “nações”, você se comprometeria com intercessão focada e informada por um povo em particular. Em vez de apoiar missões de forma genérica, você investiria em esforços específicos direcionados ao seu povo adotado.
Isso se baseia em décadas de programas de adoção bem-sucedidos e surge em um momento crucial: o envio missionário ocidental tradicional diminuiu pela metade nos últimos 50 anos, enquanto as igrejas do Mundo Majoritário enviam sete vezes mais missionários do que há 50 anos, e a tecnologia abriu novos caminhos para o acesso ao evangelho.
Foco Inicial: 100 Maiores FPG por PGAC
Nosso lançamento inicial abordará os 100 maiores “Povos de Fronteira” (FPG), usando uma métrica chamada “Povos que Abrangem Vários Países” (PGAC). Essa abordagem reconhece que muitos povos significativos se estendem por diversas nações, exigindo estratégias que levem essa realidade em conta.
Por exemplo, os Pashtuns não vivem apenas no Afeganistão — também estão presentes além da fronteira, no Paquistão. Os Tajiques estendem-se até o Tadjiquistão. Uma abordagem Povos que Abrangem Vários Países permite pensar estrategicamente em alcançar esses povos onde quer que estejam, em vez de limitar o foco a fronteiras políticas.
Por que começar pelos 100 maiores? Impacto estratégico. Esses grandes Povos de Fronteira representam a maior fatia da população “de fronteira”, permitindo-nos causar a diferença mais significativa na perdição global enquanto aprendemos lições que podem ser aplicadas a grupos menores.
Como é a Adoção
Nosso programa oferecerá, em última análise, vários níveis de envolvimento:
• Guerreiros de Intercessão: Comprometendo-se com oração focada e informada pelo seu povo adotado, recebendo atualizações regulares de oração, percepções culturais e pedidos específicos por avanço.
• Patrocinadores Missionários: Fornecendo apoio financeiro e logístico para obreiros entre o seu povo, incluindo custeio de aprendizado de idioma, formação cultural ou despesas ministeriais em campo.
• Plantadores de Igrejas & Fazedores de Discípulos: Para aqueles chamados a um compromisso de longo prazo, conectaremos você a oportunidades de treinamento e a organizações enviadoras que atuam entre o seu povo adotado.
• Defensores de Negócios como Missão (BAM): Mobilizando investimento orientado pela fé para trabalho missionário sustentável por meio de empresas que ofereçam acesso legítimo ou gerem criação de empregos nas comunidades-alvo.
O programa de adoção reflete nossa compreensão de que o futuro das missões “de fronteira” será multifacetado, incorporando o engajamento de diásporas (muitos povos de fronteira agora vivem em grandes cidades ao redor do mundo), o discipulado digital por meio de mídias sociais e tecnologia, a multiplicação de movimentos em que avanços em um grupo desencadeiam movimentos em grupos semelhantes, e a liderança do Mundo Majoritário, pois as igrejas do Sul Global estão cada vez mais bem posicionadas para alcançar povos de fronteira culturalmente próximos.
Afeganistão e o Programa de Adoção
Dada a concentração de Povos de Fronteira no Afeganistão, vários povos afegãos provavelmente serão incluídos em nosso foco inicial dos 100 Povos que Abrangem Vários Países, tornando nosso destaque no Afeganistão, no mês de julho, particularmente oportuno.
Considere, por exemplo, os Pashtuns, um agrupamento que figura entre os 50 maiores Povos de Fronteira em população. Adotar os Pashtuns significaria orar especificamente por avanços entre um povo moldado tanto pela devoção islâmica quanto por seu antigo código de honra; compreender as complexidades de alcançar um povo espalhado pelo Afeganistão e Paquistão; apoiar o trabalho tanto entre pashtuns rurais tradicionais quanto em comunidades diaspóricas urbanizadas; e conectar-se a organizações que compreendam a cultura pashtun e possuam estratégias de engajamento adequadas.
O mesmo raciocínio estratégico aplica-se aos Tajiques, Hazaras, Uzbeques e outros povos afegãos que provavelmente aparecerão no programa.
D- O Que Isso Significa para Você
À medida que nos preparamos para o lançamento em julho, seguem algumas maneiras de começar a refletir sobre a adoção de povos:
Para Indivíduos e Famílias
Comece com oração — pergunte a Deus se Ele está chamando sua família a um engajamento focado com um povo específico. Não se trata apenas de acrescentar mais um pedido de oração; é permitir que Deus parta o seu coração por um povo em particular.
Comece a aprender sobre os povos do Afeganistão e de outras regiões “de fronteira” utilizando os perfis do Projeto Josué, que oferecem informações ricas sobre a história, cultura, religião e desafios de cada grupo.
Considere a sua posição única — você possui habilidades profissionais que poderiam se transformar em oportunidades de negócios como missão? Competências linguísticas que possam ser relevantes? Redes que possam apoiar obreiros em campo?
Para Igrejas e Organizações
Avalie a sua estratégia missionária. Quanto do seu orçamento e do seu foco de oração vai para povos de fronteira em comparação ao fortalecimento de comunidades cristãs já existentes? Ambos têm seu lugar, mas o seu investimento corresponde à necessidade?
Pense em adoção corporativa. Uma igreja ou organização que adote um povo de fronteira pode galvanizar toda a comunidade em torno de um foco específico, gerando um engajamento mais profundo do que o apoio missionário genérico.
Planeje a longo prazo. A adoção de povos não é um projeto de curto prazo, mas sim um compromisso que pode se estender por décadas.
Conclusão: A Colheita Está Pronta
Os 70 povos não alcançados do Afeganistão representam, ao mesmo tempo, um enorme desafio e uma oportunidade incrível. A concentração de Povos de Fronteira ali faz do país um dos locais mais estratégicos para esforços missionários focados, e o próximo Programa de Adoção de Povos oferece uma maneira concreta de se engajar estrategicamente nessa colheita.
Mas, em última análise, não se trata de programas ou estratégias, trata-se de obediência à Grande Comissão e de amor por povos que nunca ouviram o nome de Jesus. Trata-se de crer que o mesmo evangelho que transformou a sua vida tem poder para transformar povos por inteiro que esperam há séculos por seu primeiro encontro com Cristo.
E se Deus estiver chamando você para fazer parte da resposta às orações dos crentes afegãos que clamam por seus povos há gerações? E se a sua adoção de um povo específico se tornar parte da história de como o evangelho finalmente chegou à encruzilhada da história?
Termos e siglas neste documento:
Português - Inglês
Grande Comissão - Great Commission
povos não alcançados - unreached people groups
Povos de Fronteira - Frontier People Groups
Programa de Adoção de Povos - People Group Adoption program
Negócios como Missão (BAM) - Business as Mission (BAM)
Povos que Abrangem Vários Países (PGAC) - People Groups Across Countries (PGAC)



Comentários